(Escrito na data de postagem)
Tudo é prazer ou dor. Nada diferente poderia se pensar ao notar a natureza humana, logo tudo é prazer ou dor. O homem define e lapida seu mundo da maneira que quer, encontra significado e variações das sensações para as demasiadas formas que se interpreta. Contudo, é possível se livrar da famigerada dicotomia do bem e do mal?
Ao imaginar as coisas que fazemos no mundo vemos que algumas nos geram divertimento, alegria, felicidade, potência… logo, dá-nos prazer. Noutra ponta está os desprazeres da vivência como ódio, raiva, tristeza, angústia, sofrimento… portanto, dor. Todavia ao se afastar um pouco de Epicuro pensemos nas coisas que nos são indiferentes, por exemplo, ter de trabalhar todos os dias. Talvez seja tão normal o trabalho diário que nem sequer reclamamos ou adoramos mais o fato de exercer tal atividade, ainda assim, o trabalho tem de estar dentro dessa linha que contém o prazer numa ponta inversa a da dor. Digamos que em boa parte do trabalho passamos felizes, pelas companhias, troca de ideias e crescimento pessoal, em contrapartida temos que lembrar das cobranças, castigos indevidos, atrasos e demissões. Pois bem, parece que o trabalho neste julgamento continua no “meio do muro”.
O trabalho em si é uma atividade, contudo o que ele gera se distribui em outras coisas, podemos citar o conhecimento adquirido, a experiência, o salário… Veja só, coisas boas, logo prazer. Entretanto também existe o desgaste irrecuperável, marcas e cicatrizes, tempo perdido e assim por diante, chegamos novamente na dor.
Nessa altura do campeonato espera-se que eu acrescente um ou mais itens nessa linha, contudo ainda creio na dualidade do prazer e da dor, claro, existem repartições das sensações humanas que podem ter diversas diferenças, contudo creio que essas sensações sejam apenas folhas duma raiz fundadora que se equilibra no prazer e na dor. Pois bem, como poderia então uma só raiz com tamanha dualidade gerar coisas tão diferentes? Essa raiz não deveria então gerar “folhas com dualidades”?
Dá-se a entender que sim, porém, não é possível, o que ocorre é que algumas sensações parecem ser complexas, contudo, são julgadas em um tempo maior que o de suas origens. Voltemos ao exemplo do trabalho, o trabalho não poderia se classificar nesse julgamento já que consiste em horas e horas de atuações diversas, receber o salário é algo bom, em contrapartida receber uma advertência por atrasos é algo ruim, julgar o trabalho como um todo só fará com que cheguemos à dualidade em questão.
As sensações em seus níveis “atômicos” sempre serão ligadas ao prazer ou à dor, ainda que isso seja subjetivo de cada ser. Uma pessoa pode com o tempo parar de achar algo prazeroso, isso será uma atualização da sua visão sobre o mundo, algo corriqueiro.
Então se chega no seguinte: “Se uma pessoa passa a mudar de opinião sobre algo que lhe satisfaz, sendo isso algo contínuo dentro duma faixa temporal, logo haverá um momento em que o equilíbrio entre o prazer e a dor será alcançado”. Lógico-matematicamente analisando é uma impressão, todavia isso não ocorre. Ao questionar uma pessoa sobre fazer A ou fazer B é possível que ela responda com um “tanto faz”. Essa resposta não representa um equilíbrio entre o fazer e o não fazer, não representa que entre o prazer e a dor, tanto faz. Apenas representa que ambas as escolhas atribuídas são prazerosas, contudo existem prazeres maiores que poderiam ser atingidos, logo, questionar entre duas coisas ou questionar sobre fazer ou não, só será um questionamento entre dois prazeres que se semelhantes resultarão numa resposta do tipo “tanto faz”.
Se a mesma pessoa fosse questionada sobre algo que não lhe interessasse (a dor), escolheria a opção inversa de imediato (ou não fazer aquilo, se apenas uma opção).
Os masoquistas, sádicos e psicopatas não se excluem do julgamento, eles são exatamente iguais, somente tem seus ideais invertidos por aqueles que os denominam. Algumas pessoas podem escolher a dor ante o prazer simplesmente por se deleitarem com a sensação que será trazida após a consumação da dor escolhida.
O que costuma-se confundir é a sensação e o sentimento, o sentimento é um rol de sensações a qual não se escolhe sentir, o sentimento não passa duma bomba feita pelo inconsciente que afeta o consciente, logo ela não tem de fazer sentido, não conseguimos fugir dos nossos sentimentos, ao tentar interpretá-los se notará que os conflitos existentes formam o maior dos impeditivos. Claro, devemos analisar a totalidade dos sentimentos, os atos que nos permeiam devem ser vistos com cuidado já que tem tamanha complexidade e afetam o futuro.
Nota-se então a dualidade em que vivemos, onde temos de escolher entre diversos prazeres, alguns maiores que outros. Contudo em nossa vida muitas vezes temos de escolher algumas dores para que num futuro consigamos recuperar um prazer com lucros, contudo isso é tema para outro texto.