(Escrito na data de postagem)
Após tantos anos correndo atrás disso, por fim em mãos. Ainda, apenas uma declaração, meu diploma está para chegar. É estranho pensar que para conseguir uma simples folha foram inúmeros esforços e mudanças.
Desde meados de fevereiro de 2014, quando entrei na faculdade, até agora… outubro de 2021. Neste percurso foram três instituições de ensino diferentes, em dois cursos correlatos. Foram 7 anos e meio, 15 semestres… nunca imaginei ficar tanto tempo para se formar. Mas de fato o que é se formar?
Minha infância fora conturbada, a pobreza e desestrutura familiar fez minha mente ser criada para a guerra. Apesar disso, quando menor sempre fui um aluno dedicado, tentava ser o melhor, li vários livros, fazia os trabalhos adiantados, me inscrevi em inúmeros cursos profissionalizantes, estudei inglês e espanhol, fiz um curso Técnico em Administração. Enfim, me sentia pronto para a faculdade, seria apenas mais uma fase.
Ao passar um semestre na FAFIT em Itararé tive meus primeiros sustos quanto à área de TI. Algoritmos e lógica unidos à matemática foram desafios, ainda assim consegui fazê-los de forma eficiente. Tudo complicou mesmo quando passei na UTFPR, o mesmo curso, Sistemas de Informação, mas em uma nova cidade, com novas pessoas, sem família, sem meus amigos, e claro, sem dinheiro. Então decidi sair do FIES naquele momento e ir para Curitiba, FIES que dera trabalho absurdo para ser conseguido, além de envolver minha tia a qual me ajudou muito neste início do meu percurso.
Em itararé eu já fazia estágio na Prefeitura da cidade, quando resolvi vir para Curitiba abri mão de muitas coisas que já tinham sido difíceis. Sem condições de ter ajuda dos meus pais me inscrevi em um programa de auxílio do governo, a esmola que me permitiu sobreviver por cerca de dois anos. Enfim, a burocracia de uma federal, a falta de dinheiro, ter apenas 17 anos, morar distante numa cidade nova… foram grandes desafios.
Desde lá passei rapidamente por um trabalho de vendedor numa loja de eletrônicos no centro, após isso já fui estagiar na área em 2015. Desde então tanta coisa aconteceu. Partindo de inúmeras reprovações, necessidades básicas não atendidas pelo pouco dinheiro disponível, meu pai mandando o pouco que ele podia para me ajudar, enfim, muito tempo sofri calado. Chorei algumas vezes por faltar os malditos 2,50 reais do almoço, chorei por me sentir fraco pelas reprovações, chorei por ganhar tão pouco no estágio e não ser reconhecido, chorei por sonhar…
Ansiedade, depressão, angústia. Tanta coisa que vinha me abalar, contudo eu tentava seguir com o trabalho, com os estudos, com a vida… Tanta coisa vem a mente, desde pular a catraca do ônibus para ir estudar, desde andar 12 km de casa até a faculdade entregando currículos, desde humilhações no trabalho, humilhações de professores, desde minha própria fraqueza me consumindo. O alcoolismo ajudou a manter certo equilíbrio por uns anos, até me consumidor por completo em seu ápice. Foram algumas semanas de terapia no SUS, que mais me ajudou a querer fugir de lá e tentar resolver tudo sozinho, como sempre foi.
Aos 21 meu pai doente, sai correndo de Curitiba para auxiliá-lo em Itararé, perdi um semestre da faculdade e fiquei bons meses repondo horas na empresa. Decidi trazê-lo para morar comigo, as contas que já eram árduas foram ainda mais difíceis, mas faria tudo pelo meu pai, fiz o que pude para ajudá-lo.
Após conglomerados de reprovações, meu pai voltando para Itararé, o dinheiro sempre curto, ser o diabo de um estagiário por quase cinco anos, decidi mudar… Não foi uma decisão, foram diversas revoltas consigo, com a sociedade, com a faculdade. Foram conversas com coordenadores, foi a fúria de parar de medir palavras e expor tudo aquilo que houvera ficado em mim, o estopim que culminou em inúmeras decisões.
Decidi trocar de faculdade novamente, abandonar a federal que era orgulho nas minhas frases quando me apresentava, decidi me dar por vencido. Deixei colegas e amigos lá, também inúmeros professores espetaculares (e uma grande quantidade de professores imbecis). Resolvi dar o braço a torcer, me mudei para UNISA, uma faculdade EAD no curso de Gestão de TI, pedi para ser contratado na empresa, decidi trilhar por outro caminho.
Depois de ter sido contratado pude me dedicar mais horas ao trabalho, em horários mais apropriados, ao mesmo tempo pude concluir meus estudos. Nestes anos que se passaram fui de estagiário para coordenador do meu setor, fiz inúmeras atividades e passei por diversas funções, me provei e ainda me provo diariamente como alguém que luta por ajudar aonde estou.
Agora depois de todo este tempo, toda esta aventura chega minha conclusão de curso. Muito mais do que me formar como Analista ou Gestor. Me formei (e ainda me formo) como pessoa. Não me sinto como um vitorioso comemorando o ápice, me sinto triste, feliz e acima de tudo aliviado, tirei uma pedra das minhas costas, esta qual levei por anos e anos.
Enfim, já estou entrando em uma pós de Gestão de Pessoas, logo mais estarei em outra de Gestão de Projetos, também quero cursar inglês para atingir uma proficiência. Eu não sei o que mais virá, mas não vou parar, não irei parar até me sentir satisfeito, até sentir tudo como dever cumprido.
Não queria que este texto fosse assim dramático, mas talvez o drama foi o coadjuvante da minha vida. Sinto que hoje tudo está se encaixando, não tenho mais medo do futuro, superei a si mesmo para me construir, por fim aguardo anos cada vez melhores, com mais conquistas, com mais alegria, quero que toda esta batalha apenas tenha me fortalecido para todo o futuro que hei de criar.