Quo vadis

(Escrito na data de postagem)

Ao que parece nos deparamos diariamente com a morte. A morte da rotina, o término do projeto, ao fim de uma semana, chegando ao desfecho de mais um mês, se despedindo de mais um ano, outra década que já se fora, a conclusão de mais um capítulo, a finalização de outra lamúria, o último suspiro do amanhecer.

Com tudo isso se vão os entes, os familiares, o querido companheiro animal, os relacionamentos, se vão também as lembranças da infância e juventude, partem de mesmo modo as sensações antes tão recorrentes, conjuntamente o corpo deixa de se comportar como deveria quando programado, as lágrimas se acumulam aos montes com o passar dos anos, os olhos deixam de enxergar o mesmo brilho…

Tempo que vai e não volta, cada instante um rastro de morte nalgum lugar, cada ciclo cumprido, um ciclo a menos para se comemorar. Afinal “só se vivem mesmo nove meses”, vide M. Franco. Não entendo como a maioria não se lamente diariamente pelo passado, não por arrependimentos, mas por aceitar que aquele pedaço de vida foi arrancado do ser, que se acumulará à montanha de fatos vividos jogados num arquivo no tempo.

Não compreendo as folhas caírem todo ano, as pessoas irem e virem todo dia, os pássaros migrarem toda estação e o sol incansavelmente fazer questão de reamanhecer. Não absorvo toda essa mudança, todo esse fluxo de informação. Frustra-me saber que cada escolha feita, vela consigo todos os possíveis caminhos. Entristece-me pensar que há tanto para se ver, abundantes coisas para se ouvir, variados momentos para sentir e amar, mas não poderei provar de tantas fontes.

O que mais fere e choca é a morte precoce, abalando todo o esquema estrutural, rompendo com artefatos premeditados, rasgando consigo o cômodo pensar. Não sei dizer se é possível comparar esse gênero de dor, mas que abala, bem, abala demais.

A verdade nua e crua é que não existe sabedoria para com a morte, ao chegar perto do fim, quando finalmente nota-se a pequenez da alma, todos sofrem, todos deixam de aceitar o momento, todos gostariam de apenas mais um dia de felicidade. Enfim, mais um ciclo é ceifado sem muito alarde, mais um remorso será vivido por momentos dispersos. Nada volta, tudo passa e leva consigo queles que estiveram em época.

Seria menos injusto ter a eternidade, contudo seria monótono e vazio.