Cansioso

(Escrito na data de postagem)

Acredito me dar tão bem em tom cômico quanto em melancolia, contudo sinto que ser cômico demais na escrita é algo patético, meio que esculachado. Não que escritores famosos, principalmente cronistas, façam isso de forma ruim, muito pelo contrário, adoro ler sequências de crônicas engraçadas. Entretanto acredito que aquilo que faço seja humor ácido, e claro, isso deva ser controlado.

Adoro o tom de sarcasmo quando empregado de forma inteligente, principalmente quando se torna algo engraçado, faz-me acreditar que a vida está nas entrelinhas, não na tola rotina e nas retóricas… Todavia acho que sarcasmo vindo de arrogância é nojento, gosto de piadas ácidas que logo são reveladas, comentários que aliviam a tensão do dia. Ainda assim não sou amante de humor negro e exageros desnecessários, muitas vezes deixo de fazer brincadeira para não ferir, acredito no limite das coisas, embora eu já o tenha estourado por diversas vezes, em N ocasiões.

Venho notando que menos é mais, meio clichê, mas necessário reafirmar. Quando mais novo sempre foquei na quantidade, fazer mais parecia o ápice da produtividade. Ainda hoje gosto de fazer muitas atividades , resolver diversos problemas é algo que realmente me satisfaz, contudo em itens mais específicos e que posso desempenhar minha verdadeira vontade de potência, aí sim, faço calmamente e tento controlar o ser prolixo que habita em mim.

Na poesia adoro enxugar palavras, comprimir ao máximo, deixar o mínimo possível com profundidade atômica. Acho que me escondo tanto nas palavras, que me obstruo no próprio enigma, fazendo questão de ser compreendido só por aquele que realmente tenta. Já na crônica me deixo mais livre, gosto da liberdade de escrever sem calcular, deixa algo bem mais leve e longo, contudo mais legível.

Não sei se me daria bem em coluna de jornal ou algo do gênero, acredito que muitas vezes, mesmo com boas ideias, fiz questão de não escrever, simplesmente pelo fato de achar que não estava com total inspiração ou que a ideia não era suficientemente boa. Não que eu pense que minhas ideias são sempre boas, ainda assim acredito que tento fazer com que elas sejam.

Por fim, no enésimo parágrafo chego no termo “Cansioso”, este o qual me fez escrever sobre humor linhas acima. Cansioso é a palavra que inventei hoje para descrever meu sentimento nos últimos meses, um cansado ansioso. Nunca paro de me mexer, de reinventar, de mudar as coisas de lugar e refazer o que me desagrada, nem que eu refaça vinte vezes, não é questão de TOC ou perfeccionismo, é só inquietude mesmo. Ainda assim me pego derrotado inúmeras vezes durante esses picos de energia aleatórios, por vezes passo semanas fazendo o mínimo. Talvez seja meu corpo controlando a ansiedade, talvez sejam processos químico-físicos ou apenas eu me considere especial quando na verdade todos são assim…

Não me vejo como alguém especial, porém acho que tenho manias e me saboto, acabo por me cobrar demais, quando vejo que não vou dar conta volto pro estado de cansado, aí no outro dia refaço os planos e tento de novo, retomo o estado de ansioso. Por diante vou seguindo, alternando entre ansiedade de sempre melhorar e o cansaço de nunca bater as metas inalcançáveis…

O que sobra?

Alguém um tanto infeliz.

Em que momento comemoro?

Acho que até mesmo as idas as bares, o sexo, o futebol, tudo virou meta, tudo virou número, tudo virou quantificação, tudo gira em torno desse estado de estar ansioso pelo impossível ou cansado de não tê-lo alcançado.

Vou mudar, estou cansado de estar cansado de estar ansioso de lutar pelo impossível.

Entendeu?

Nem eu…

O fato é que quero viver, quero sentir de volta, quero sentar na calçada e beber refrigerante com meus amigos, rindo de futilidades, deixando o tempo passar, sem pensar que ele está passando, quero simplicidade com glamour, quero amizade com sinceridade, quero atração por genuinidade, quero a transvaloração de todos os valores para aquilo que realmente importa: vida.

Nesta mistura de desabafo, com Nietzsche, com humor e crônica, deixo aqui meu registro, se por ventura está passando por algo assim, um singelo conselho: reflita o tempo que for, formule um plano focado em você, mas que não prejudique ninguém, e por fim, viva sem pensar tanto nas consequências. Independente de tudo todos se encontrarão no final da corrida, viva para gritar “viva”!