(Escrito na data de postagem)
Tempo vai, tempo vem e fico pensando em novos objetivos, novas conquistas, novas formas de se reinventar… Acho curioso o fato cultural humano de aprimoramento, contudo raramente é exposto o desejo pelo ócio, mesmo assim é vendida a ideia de melhoria contínua pessoal.
Ao navegar por redes sociais, ou mesmo ouvir os relatos cotidianos, percebo como cada pessoa tenta expor sempre o perfeito, nem que para isso precise mentir, adulterar ou ser de uma imagem de si própria, por fim vivendo um cover se si mesma.
Acho importante o aprimoramento, ainda mais quando enxerga-se necessidade para execução de algo, nunca me contento com o fato de estar estagnado, contudo muitas vezes estudo e procuro conhecimento sobre áreas as quais não me darão aplicação prática, ou sequer me darão conhecimento, muitas vezes só o fato da busca, da investigação, já sacia.
Não acredito em utilitarismo ou que a superação possa ser sempre alcançada, a vida trata-se de chegar ao topo e se preparar para a queda, a decadência é uma realidade a qual ninguém está pronto para assumir e enfrentar. Entretanto, como qualquer outro ser vivo, seguimos nossa biologia, nossa degradação é contínua e imparável. Ainda que com tantos avanços medicinais, com estruturas sociais que dão sustentação, com a tecnologia trazendo longevidade… a verdade é que somos decadentes.
Não vejo a decadência como algo ruim, apenas é o ciclo, não há como fugir. Não tenho grande admiração por auto-ajuda, mas sei de seu valor, contudo acho desinteressante o desserviço que é feito com o otimismo exacerbado. Temos de aprender a encarar nossos abismos, temos que aprender a ausência de sentido, temos de provar o amargo, temos que experimentar o inevitável.
Dizer tais coisas parece algo de alguém infeliz ou totalmente pessimista, confesso que sim, talvez eu seja, mas creio que a vida a todo momento nos dá espectros, pontos de vista sobre tudo, podemos escolher ver o lado positivo das coisas ou ver o lado negativo. Ainda assim, acredito que a forma como o mundo se organiza hoje é protecionista, falso, estúpido e cuidado demais.
O choque de realidade, a quebra de expectativa, muitas vezes não ocorre, estamos envenenando as próximas gerações com a ideia de aprimoramento, de constância, de felicidade, de controle sobre a vida (e muitas vezes a de outrem). Porém, ninguém prepara o outro para a decadência, para a dor, para o vazio. Estamos sempre buscando achar razão, ou justificar nossas emoções e atos, raramente admitimos nossa culpa ou erro.
O problema da ausência de relação com a decadência, faz com que qualquer coisa que saia do controle, torne-se alvo de lamento extremo, de profunda revolta, de cancelamentos, de tristeza profunda, de manchetes inacreditáveis. A nova sociedade não fala grosso, não grita, não se exalta, não diz “não”. Tempos bons criando pessoas fracas.
Acredito que sempre devemos buscar melhorar, seja no dia a dia, seja na convivência familiar, seja em atitudes e conhecimentos para executar tarefas no trabalho, ou seja em hobbies, esportes ou atividades quaisquer. Contudo devemos saber reconhecer os erros, saber dizer não, saber NÃO ser contundente em situações que exijam improvisação. Para ser o melhor, para chegar ao Ubermensch, devemos reconhecer nossas limitações e ter noção de toda nossa ignorância e incapacidade.
Imagem: Capa da minissérie “Decadência” de 1995