Ininterrupto

(Escrito em: 7 de Julho de 2024)

Contrastes ignorados,
Tão gritantes, explícitos.
Próximos em geografia,
Distantes por demagogia.

O lado temido em abandono
Cobre a sujeira de seu dono.
Eles olham com temor, ameaça,
Então empunham maior arma:
Formam invisíveis sociais,
Financiam distopias ideais.

Bobagem esta conceituar,
Tentar corrigir, idealizar,
Não há mudança maior.
Os perâmbulos quaisquer
Formam atração ou manobra,
Apenas alicerces desta obra.

Não vejo por conspiração,
Bloqueio devaneios tolos,
Todavia não há nova malícia,
Inocência se foi na meninice.

Revolta se faz, vem e vai,
Rir do perigo acalma, distraí.
Para que tanta luta atoa?

Mais vale deitar e aceitar
Esta maldita hegemonia?
Ou sofrer amando a aflição
De viver combate dia a dia?

Por vezes sem hesitar
Deixo aflorar tanta dor,
Noutras, crescer euforia.
Metastática sensação, contamina,
Explode em tanta intensidade.

Para que procurar verdade?
Mais vale achar calmaria,
Ignorância, ilustre bênção,
Contamine, faça-me esquecer,
De tanta informação, angústia.
Tira do peito infinita busca,
Em consertar, moldar, refazer.

Buscarei amparo em ser,
Apenas viver sem compreender
E neste contraste se misturar.
Talvez nalgum deles pertencer,
Mas nunca, jamais, saber,
Apenas viver por viver.

Ter morte e morrer em paz,
Repousar no eterno vazio,
No aconchegante esquecimento,
De nunca mais para cá voltar,
Não ter risco disso tudo retornar.

Nova via se torna utopia.
O que resta é prato frio,
Aceitar o que fere a ótica,
Que ultrapassa os fenótipos.
Apenas engula então a seco:
Os medos, sonhos e segredos.