Chá

(Escrito em: 3 de janeiro de 2017)

O mundo gira, as pessoas consomem, os pássaros passeiam passarinhando e eu ainda não aprendi a temperatura do chá. Às vezes me desespero ao esquecer que a chaleira ficou na mesa por horas ao esperar “um minutinho” para que o chá esfriasse um pouco, em outras, queimo minha língua ao folhear um livro e tentar embebedar minha goela ao mesmo tempo. Ainda assim há outras ocasiões em que ao encher demasiadamente a xícara tremo de cá e de lá e meus dedos que se queimam com o que está a derramar, ah… se fossem só eles, quando o primeiro pingo da chaleira desvia a xícara e toca a ponta do dedinho do meu pé desnudo imediatamente vejo o arrependimento de fazer esse maldito chá.

O engraçado é quando preciso de um álibi para parar algo importante, apenas um motivo… e qual? O chá acabou, a música terminou e o motivo supimpa acaba de surgir. Nada que mais alguns minutos e a chaleira estivesse fervendo novamente, mas que nos venha a calhar depois de algumas xícaras não tomamos o mesmo chá.

Mas nada melhor que um pouco dessa maravilha quente para acompanhar uma noite mal dormida. E olha, nem o calor serve de desculpa quando se gosta de chá. Posso estar pelando sob o sol de Salvador e estar rente à uma usina nuclear estirado no asfalto quente, se por devaneio do destino alguma maluco me oferecer um chá, ahhh, nem que eu queime a língua e derrube sobre os dedos xingando a xícara e a esquecendo até o chá ficar morno, ainda assim, eu hei de tomar. Agora se for chá gelado nem vem, traidor eu nunca fui, chá é fervendo mesmo, do contrário chupo uma pedra de gelo…