O Pobre e o Gênio

(Escrito na data de postagem)

Parou, olhou e viu aquela lâmpada, mas que acaso, estaria num filme ou algo do tipo? Afinal de contas essa coisa não existe…

Balbuciou alguns questionamentos a si mesmo enquanto observa de lá para cá se havia alguém lhe olhando. Pois bem, nada lhe custaria pegá-la e esfregá-la, foi o que decidiu fazer, tomou para si e a esfregou, assim como costumava assistir os atores fazendo.

Num raio de mágica surge um gênio daquela lâmpada, isso faz o homem dar um pulo de relance.

— Mas quem é você, por minha mãe querida…

— O que esperava? Sou um gênio ora bolas, estou aqui para lhe conceder desejos!

— Isso não parece com algo bom… Enfim, já que aqui está, o que posso pedir?

— Você tem direito a um único desejo, mas como sou um bom gênio, antes de realizá-lo irei lhe questionar quanto ao pedido, para que tenha certeza daquilo que está a pedir. Todavia há um porém, só posso lhe transformar em algum personagem sendo este do passado, presente ou futuro e você habitará na época de seu apogeu enquanto vivo.

— Compreendo… creio eu… bem, não há o que perder… deixe-me pensar em quem…

— O faça, decida logo, não tenho muito tempo a perder contigo!

— Claro que não tem, vai voltar para eternidade daquela lâmpada, imagino quantas prioridades tem…

— Faça o pedido!

— Certo… bem, eu sou homem pobre na vida que levo, tenho uma família que não me dá grandes emoções e uma vida pacata que me torna infeliz, gostaria de ser grandioso… talvez ser um rei, isto um rei!

— Ser um rei?

— Sim! Ser o maior faraó que já existiu no Egito!

— Talvez esteja se referindo a Ramsés, o Grande.

— Pode ser essa daí mesmo, assim poderei ter muitos monumentos, diversas comidas, bebidas e mordomias, parece-me ótimo!

— Talvez eu tenha que alerta-lo de alguns detalhes…

— Que detalhes? Que mal pode haver em ser o rei de todo o Egito? Diz o homem questionando-se sem sucesso sobre os possíveis detalhes.

— Você talvez deva rever alguns pontos para ver se isso é aquilo que realmente deseja, vou lhe apresentar alguns contrapontos. Seus monumentos serão imensos, contudo arderão sob um sol escaldante, onde súditos poderão lhe abanar por todo o dia, mas nunca chegará perto do conforto de um simples ventilador de sua época. Já as comidas, haverão diversas que não irá querer comer, o deserto não é generoso com a questão alimentícia, terá de se contentar em apreciar diversas frutas, as bebidas que tanto ama nem sequer terão sido inventadas. Em pensar nas mordomias, você não terá um banheiro confortável, muito menos um chuveiro, assim como não haverá luz elétrica, a arte que tanto ama se reduzirá há escravos fazendo bobagens para lhe agradar e…

— Chega! Você me convenceu, não quero ser o rei do Egito… só de pensar em me livrar da cerveja do final de semana já fico mal…

— Compreendo, tente outro alguém então!

— Bem, talvez eu queira então o futuro, ser o maior empresário do século XXII, parece-me um grande título!

— Com toda certeza é um grande título, mas já pensou nas obrigações que terá?

— Obrigações? Eu quero as rique…

— Se falhar com seus acionistas perderá grande parte de sua fortuna, assim como criará diversos inimigos que farão de tudo para afundar com sua vida, o mercado empresarial de seu futuro pode ser uma guerra tão bruta quanto a que vê nas telas.

— Realmente, não quero lidar com tamanha responsabilidade e risco, só de pensar o medo me ataca…

— E o que pretende ser então?

— Deixe-me ver… e se eu for apenas o filho de um pai muito rico, assim poderei viver as custas de meu pai sem me preocupar com problemas!

— Sei que você é pobre e tem uma vida simples, mas pretende mesmo abrir mão de ter a honra de ser um grande trabalhador que sempre conseguiu as coisas por conta própria para se tornar submisso a um pai que lhe dará riquezas, contudo tomará sua liberdade?

— De forma alguma eu aceitaria ser capacho de alguém! Não admitira ter tudo, mas baixar a cabeça e obedecer a qualquer ordem que me venha, já que não terei direto de palavra…

— Foi o que imaginei…

— Bem, e se eu vivesse eu meu próprio tempo… se eu fosse um grande artista, que ganha a vida com seu trabalho reconhecido e tem admiração por todos… nisso não há erro!

— Se for isso que realmente quer posso torná-lo um grande cantor ou algo do tipo, mas pretende mesmo arriscar uma fama que talvez apenas represente o impulso do momentâneo? Dedicar toda sua vida a arte e talvez morrer esquecido? Questionar-se todo dia se seus fãs realmente gostam de seu trabalho ou amam a diversão que o envolve? É isto que quer?

— Você dizendo dessa maneira, parece que não é o que quero mesmo… mas raios, não consigo imaginar ninguém que eu possa ser mantendo aquilo que gosto de fazer e que aprecio…

— Ninguém?

Passaram inúmeras ideias na mente do pobre rapaz, até que veio em sua cabeça a pessoa perfeita em quem deveria se tonar.

— Já sei quem quero ser!

— Pois bem, diga-me!

— Gostaria de ser eu mesmo.

— O que? Como assim? Diz o gênio atônito.

— Você conversando comigo me ensinou algo interessante, não é a pobreza que me torna infeliz, mesmo em minha simplicidade consigo ter milhares de bens, comodidades e possibilidades que o passado não entregou a mão de inúmeros grandes personagens. Não é a falta de possuir coisas de minha época que me deixa triste, já que para as ter eu teria de mudar minha personalidade, abrir mão de outras coisas e ter responsabilidades as quais não estou preparado. Com toda certeza, não será se tornar um grande alguém do futuro que me trará alegria, viveria num tempo onde as pessoas que conheço, minha família e a personalidade do meu país não serão as mesmas, onde terei tecnologias que não me trariam sentido, além de tudo o que hoje no futuro não existirá.

— Parece-me que fez uma boa escolha meu bom homem, pois bem, siga sua vida e repare numa coisa, você não é feliz, pois está tentando ser algo que não é, está sendo alguém que não lhe representa, viva sua vida com seus artefatos e limitações, mas ainda será sua vida, com suas particularidades e gostos, lute por aquilo que quer e procure o equilíbrio, assim conseguirá em sua pobreza abstrair a riqueza da alegria.

O gênio terminou suas palavras e sumiu, havia realizado seu pedido, o homem seguiu seu caminho sorrindo, era uma nova pessoa sem nunca sequer ter mudado.